O conhecimento que fundamenta as práticas de Yoga é proveniente de uma tradição que foi preservada através da transmissão oral de mestre para discípulo desde tempos imemoriais.
Sem essa conexão, seria muito difícil ou até mesmo improvável termos acesso ao real sentido do ensinamento concedido à humanidade por Shiva na forma do primeiro professor do Universo, representado, nessa condição, como Dakshinamurti.
Em grande medida, isso se deve ao fato de que a mera interpretação pessoal desse tipo de ensinamento não atende a necessidade de comprendermos certos conceitos de modo que eles apontem para visão da nossa real natureza.
Em algumas áreas do conhecimento, a visão do próprio indivíduo a respeito de um assunto, além de válida, pode até ser enriquecedora, no entanto, devido a natureza do conhecimento em questão e por ele estar vinculado ao entendimento de uma visão específica transmitida por uma tradição milenar, é evidente que a livre interpretação compromete o processo de aprendizado.
Nas palavras de Swami Dayananda: “Quando um professor falha em criar um contexto para as palavras que usa, ele não consegue transmitir conhecimento através delas. As palavras, então, tornam-se somente uma outra forma de condicionamento. Isso acontece comumente quando o assunto é o Ser. Freqüentemente, num ensinamento que tenta revelar o Ser, palavras tais como “infinito”, “Brahman” e “eterno” são usadas, mas se não são desdobradas, tais palavras se tornam um novo condicionamento, acrescentando mais confusão e falta de clareza à mente do estudante.”
No entanto, é importante frisar que isso não significa aceitar tudo o que o mestre diz sem o uso do nosso discernimento, pelo contrário, uma das etapas essenciais desse processo é o questionamento. Também é importante entender que o mestre não é uma figura especial por ter poderes, vestir laranja ou morar em uma caverna. O que faz dele especial é o conhecimento. Para entender isso com profundidade recomendo que leia O que é um Guru?
Por conta desse papel fundamental, nessa tradição, o mestre é chamado de Guru, segundo a Advayataraka Upanishad, a sílaba Gu significa sombra e a sílaba Ru, aquele que dispersa. Por causa do poder de dispersar a escuridão, o guru deve o seu nome. Essa escuridão dispersa pelo guru se refere à ignorância sobre nossa real natureza.
E assim como no ocidente temos o dia das mães, dos pais, entre outras datas comemorativas, na Índia existe o Gurupurnima uma data que celebra a figura do Guru. Essa data é determinada segundo o calendário lunar e cai no dia da lua cheia, Purnima, no mês de Ashadh (Junho ou Julho).
A lua cheia que ilumina a escuridão sobretudo desta noite, representa o Guru e nesse dia lembramos com mais intensidade de sua importância e dedicamos algumas ações para a linhagem de mestres que vêm transmitindo esse conhecimento que hoje chegou até nós por meio do(s) nosso(s) guru(s). Fazemos puja, orações ou algum tapas pedindo as bênçãos de todos os gurus do parampara (sucessão de mestres que antecederam os nossos).
Além de lembrarmos dos nossos mestres e os mestres deles que conhecemos, temos na figura de Vyasa um arquétipo para todos os mestres que estão entre os que conhecemos e Dakshinamurti, o primeiro.
Comecei a escrever esse texto na véspera e o concluo hoje no dia do Gurupurnima de 2014 e dedico ele a todos os mestres, amigos e pessoas que de alguma forma contribuíram para que eu acessasse essa tradição de conhecimento de valor inestimável.
“Minhas saudações ao Guru que me mostrou a morada daquele que é para ser conhecido, cuja forma é o universo inteiro e que permeia tudo o que se move e tudo o que não se move.”
Saudadações a todos os mestres.
Om Shri Gurubhyo Namah.
Harih Om
Por Gilberto Schulz
Gostaria de manter o contato para não perder as futuras publicações e informações sobre cursos e eventos? Cadastre-se gratuitamente clicando na imagem abaixo: