Existem inúmeros cuidados necessários para uma que uma prática de yoga seja segura e realmente benéfica. Muitos dos quais já abordamos em publicações anteriores, mas aqui quero destacar apenas um verso de um dos principais textos dessa milenar e sofisticada prática.

Trata-se de um trecho da Hatha Yoga Pradipika, um compêndio sobre a face mais popular do yoga cujo título em sânscrito pode ser traduzido como Clara Luz sobre o Hatha Yoga que foi composto por Svātmārāma por volta do século XV de nossa era. 

Entre inúmeras orientações e recomendações presentes nesse tratado há um alerta extremamente pertinente ao cenário atual. No décimo primeiro verso da primeira seção é dito de forma bem direta:

O yogi que almejar o sucesso em suas práticas deve mantê-la com discrição, pois somente assim surtirá seus efeitos. Quando divulgado indiscriminadamente, perde todo o seu poder. 

haṭhavidyā paraṁ gopyā yoginā siddhimicchatā |
bhavedvīryavatī guptā nirvīryā tu prakāśitā || 11 ||

Não se trata de uma superstição nem receio de influências negativas advindas de olhares invejosos ou debochados.

Existem diferentes níveis de entendimento para essa afirmação, a começar por uma consequente dispersão do propósito da prática. Com a exposição, a prática pode deixar de girar em torno de uma investigação pessoal e interna para se tornar algo superficial e voltado para fora.

Nesse movimento, inevitavelmente também se dispersa tanto o foco nos princípios de execução como a clareza entre meios e objetivos. As técnicas que são os meios tanto para o autocuidado como para uma auto-investigação tendem a se tornar o objetivo num sentido mais performático.

É comum a observação desse fenômeno tanto em práticas em locais abertos como em registros compartilhados nas redes sociais.

O que é compreensível tendo em vista uma forte tendência que temos de conduzir nossas vidas em função dos outros, seja numa busca por aceitação, através de comparações ou procurando o lugar da contraposição.

Enquanto a prática de yoga propõe, na sua essência, uma perspectiva diferente, da busca de se conhecer para além do corpo físico, das relações e dos papéis sociais que desempenhamos e dificilmente essa vereda será vislumbrada se apontarmos nossa motivação na direção oposta.

Além disso, não podemos desconsiderar razões de ordem mais sutil para tal aviso, pois quando fazemos algo dessa natureza mais íntima, o que vale não só para a prática de yoga, a energia e a intenção aplicadas são, sem dúvida, mais autênticas e concentradas quando reservamos o momento para nós mesmos.

Obviamente essa discrição não se refere às pessoas que se encontrem num mesmo contexto de prática e de aprendizado que nós. Nesse sentido, pode haver até mesmo uma relação de fortalecimento e aprofundamento da disciplina contando que o grupo seja bem orientado.

Também não quer dizer que seja terminantemente proibido expor nossa prática. Não precisamos ficar sujeitos apenas aos extremos e o exercício de amadurecimento reside justamente em explorar nossa liberdade dentro dessas margens.

Além de interessantes e bonitos, os registros da prática de yoga quando bem apresentados cumprem um papel de estimular outras pessoas a conhecerem essa prática milenar tão valiosa e pertinente a nossa época.

No entanto, para que ela não perca seu poder de nos prover saúde, bem-estar e clareza mental é importante dosar bem esses momentos de exposição com inteligência tendo consciência dessas nuances.

Boas práticas e lembre-se também, tendo paciência e aprendendo os detalhes de cada técnica a prática de yoga se torna segura, efetiva e para a vida toda.

Abraço e harih om!
Por Gilberto Schulz

Gilberto Schulz tem formação técnica em yoga pela ABPY e participação em cursos no Brasil e na Índia com professores de referência da tradição do yoga.
Atua há mais de 10 anos ensinando yoga e meditação

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