É um fato incontestável que estamos inseridos numa cultura que superestima a novidade. Essa ansiedade pelo novo também se manifesta em relação a prática de yoga. Notamos uma busca desenfreada por novas técnicas e métodos de um lado e do outro, a tentativa de alguns instrutores em atender essa demanda.
Não pretendo aqui remar contra essa correnteza, tampouco estabelecer qualquer parâmetro de certo e errado. Esse texto pretende ser apenas um convite a uma reflexão voltada à parte prática do yoga no que diz respeito à realização das posturas.
Numa aula de yoga, tão ou mais importante que saber como posicionar os pés, quadris, ombros é cultivar nessas ações uma atitude fundamentada em alguns princípios que fazem com que que a prática deixe de ser um mero exercício físico e se torne uma vivência íntima e profunda conectada com a nossa vida.
Uma das bases dessa atitude é uma atenção voltada para si. Através dela que observamos se estamos aplicando adequadamente nossa força de vontade, investigamos nossas reações físicas e sutis e afinamos esse constante diálogo entre nossa mente, corpo, sentidos, emoções e o mundo externo.
Quando estamos lidando pela primeira vez com uma sequência de posturas isso dificilmente ocorre pois nossa atenção fica no mínimo dividida entre o que estamos fazendo e o que professor está orientando. Fora a preocupação em estar fazendo direito e a comparação com os outros que acaba surgindo.
Não é à toa que professores tradicionais estabeleceram sequências fixas seguindo determinados critérios para que os alunos pudessem ter uma imersão nas técnicas. Além de poder explorar cada nuance da sequência proposta, conforme ela é aprendida, menor a necessidade do foco no professor e mais espaço para essa auto-observação essencial.
Existem formas variadas de estabelecer uma sequência apropriada, considerando as características do indivíduo ou do grupo, a frequência proposta, o local, o momento do dia, condições climáticas, entre outras que um bom professor saberá conjugar.
Particularmente, busco encontrar a melhor proposta de prática para o grupo ou para o indivíduo no caso de aulas particulares e ao longo do percurso essa sequência é lapidada, se desdobrando e se adaptando às estações do ano e também às circunstâncias e necessidades específicas.
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Faço isso pois entendo que ficar variando de sequência não é o melhor caminho para uma prática consistente e profunda. Não que mudanças não sejam bem-vindas, diversificar as técnicas empregadas também tem sua importância tanto do ponto de vista fisiológico como psicológico.
Mas é provável que, por conta de um anseio excessivo por novidades, muitas pessoas acabam passando pelo yoga sem ter uma experiência significativa, o momento da aula acaba se resumindo a um esforço em realizar posições exóticas acompanhado de uma euforia pelo êxito e frustração diante das dificuldades.
Volto a dizer, variações são bem vindas e fazem parte do processo de aprendizado, só não devem ser o estímulo principal para que a aula não acabe ficando restrita à condição de um simples exercício físico ou de um entretenimento impedindo, assim, um mergulho por inteiro no oceano de si mesmo que se abre com uma prática bem fundamentada.
O mais interessante é que, quando mergulhamos fundo equipados com os ensinamentos do yoga, descobrimos que assim como não é possível entrar duas vezes no mesmo rio, não fazemos nunca a mesma sequência por mais que aparentemente ela seja idêntica.
Om Tat Sat
Por Gilberto Schulz
Gilberto Schulz tem formação técnica em yoga pela ABPY e participação em cursos no Brasil e na Índia com professores de referência da tradição do yoga.
Atua há mais de 10 anos ensinando yoga e meditação
Está no Rio de Janeiro? Já pensou em aprender a praticar yoga e a meditar na sua casa ou ambiente de trabalho com técnicas mais apropriadas para você? Confira o programa de prática desenvolvido pelo Gilberto clicando na imagem abaixo
Perfeito! Penso exatamente como você! Na minha prática pessoal e com meus alunos percebo a diferença quando mantenho a mesma intenção na prática e persisto na superação dos desafios em vez de, mudarmos de sequencia a cada aula, o progresso é mais consistente…Vinyasa Krama – Desenvolvimento progressivo. Bhanat bhanat banjai (fazendo…fazendo…um dia, feito) Só que não né? O desenvolvimento pessoal não tem fim….
Temer
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