O ritmo de vida atual está tão acelerado que parece faltar tempo para fazermos tudo que gostaríamos em 24h. Existem vários fatores que explicam essa sensação, um deles é o avanço tecnológico que nos colocou diante de um mundo de acesso à informação e de interações instantâneas. Além disso, é claro, existe a lógica do sistema econômico vigente que se traduz em tempo é dinheiro.

Apesar da nossa experiência e de estudos indicarem os malefícios desse estilo de vida, além de sermos impulsionados pela necessidade, o senso comum o vê como desejável por associá-lo à ideia de produtividade e ao perfil de uma pessoa bem sucedida. Enquanto que, por outro lado, parar, dedicar parte do tempo ao lazer, ao relaxamento, a si mesmo, é visto como perda de tempo.

A palavra zen, por exemplo, nem sempre é usada como um elogio, pelo contrário, não sei se já repararam que esse termo é comumente utilizado com uma conotação pejorativa. Enquanto professor de yoga, sou constantemente atrelado a esse rótulo, no sentido positivo e também no negativo. Mas a verdade é que dedicar um tempo para gente é uma necessidade humana e não atendê-la está tornando as pessoas e a sociedade doentes.

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Nossa sociedade tem uma imagem de força pautada em premissas equivocadas: forte é quem trabalha sem parar, dorme pouco, é aquele que atropela todos que passam pela sua frente. Mas muito provavelmente uma pessoa que vive desse jeito esconde sua fragilidade por de trás dessa máscara, sofrendo, desejando mudar.

É preciso ter coragem de pensar fora da caixa para conseguir compreender a importância de desacelerar e quem sabe até parar de forma intencional. Esse simples gesto se não abrir, de imediato, uma porta para um novo horizonte, será, pelo menos, uma oportunidade para “afiar o machado”: centrar a mente e recompor as energias para retornar às atividades que já exerce.

Nesse ponto, vale considerar que a eficiência não está diretamente associada à correria, uma pessoa centrada com clareza mental certamente é capaz de mais com menos esforço e tempo. O lenhador que não pára para afiar o machado tem que fazer um esforço dobrado para obter o mesmo resultado que aqueles cujos machados estão devidamente afiados.

E muito mais do que resultados, o que está em jogo é uma nova perspectiva em relação a vida. Quando não somos capazes de parar, seguimos um fluxo pré-determinado sem pensar no que de fato é importante. Um machado bem afiado pode cortar mais do que lenhas, pode te libertar das amarras que te prendem a um estilo de vida limitado, sem significado nem perspectivas.

Aí então questões que ficam abafadas podem vir à tona.

Consigo apreciar o valor da saúde que disponho neste momento, das capacidades com que fui presenteado: de tocar, ver, ouvir, sentir e pensar? Consigo contemplar um sorriso no rosto de uma criança, um pôr do sol ou um céu estrelado? Desfrutar do simples fato de estar ao lado de uma pessoa querida? Admirar a incalculável dádiva do mero existir?

Estabelecer um momento do seu dia, quem sabe uma pausa para tomar um chá ou para apreciar o pôr do sol, se for possível, reservar um dia da semana ou até mais, para simplesmente parar e sair dessa esteira sem rumo é, sem dúvida alguma e por incrível que pareça, uma ação bastante inteligente que poderá te levar adiante nas diversas esferas da sua vida.

Om Tat Sat
Por Gilberto Schulz

Gilberto Schulz tem formação técnica em yoga pela ABPY e participação em cursos no Brasil e na Índia com professores de referência da tradição do yoga.
Atua há mais de 10 anos ensinando yoga e meditação

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