A ética é um aspecto presente na vida de todos, querendo ou não ela determina uma série de pensamentos, atitudes, escolhas e objetivos de uma pessoa. Apesar de se tratar de um tema bastante relevante, não nos importamos muito em entender como adquirimos e seguimos certos valores e conceitos.
Corriqueiramente atrelamos ética à uma balança do bem e do mal que, além de ser ajustada sem muito cuidado, serve para pesar a pessoa (na maioria das vezes, os outros) e não suas ações.
Normalmente, a base dessa balança é religiosa e tem uma relação íntima com a crença em céu e inferno ou na possibilidade de reencarnação, também se manifesta na forma de normas jurídicas com um caráter mais pragmático. De qualquer forma, nesses casos, a principal motivação em ser ético é escapar de uma possível punição.
Os valores apresentados na tradição do yoga, apesar de abarcar a religiosidade e de também ter uma proposta prática se apresentam de forma peculiar. Não excluem a experiência nem a lógica, pelo contrário, tem como base uma compreensão da estrutura de funcionamento da mente e objetiva a algo a ser alcançado em vida pelo próprio indivíduo. Ou seja, a motivação em ser ético não vem do medo nem do altruísmo.
Na perspectiva do yoga, esses valores devem desabrochar no nosso coração através da análise das relações de causa e consequência que são desencadeados por atitudes e ações tendo em vista a nossa busca fundamental, àquilo que mais almejamos: a felicidade.
Ética no yoga
Tudo começa com os valores que nutrimos no sentido daquilo que queremos ou não para nós. Essa via que se abre em nossa direção estabelece a necessidade de uma contrapartida no sentido oposto.
Se eu não quero ser ferido, não devo ferir.
Se não gosto que mintam para mim, não devo mentir.
Caso contrário, ocorre uma espécie de colapso no funcionamento dessa estrutura psicológica, gerando conflitos que comprometem nossa clareza e nos levam a buscar uma série de fugas. Ironicamente, fugimos de nós mesmos achando que estamos atrás da felicidade.
A clareza quanto a natureza da felicidade é outro pilar da ética no yoga.
Do ponto de vista comum que associa a felicidade a um estado fruto de condições externas específicas, a ética pode e acaba sendo vista em segundo plano, uma questão de conveniência a ser seguida apenas se não for comprometer a conquista de tais circunstâncias desejadas.
Uma criança aprende com facilidade o valor de um sorvete, pois ele promove uma prazer imediato e ela fica feliz. Já falar a verdade não tem um valor tão claro, ela apenas ouve que é errado ou feio. Na hora de decidir entre verdade e sorvete, o único peso a favor da verdade é o medo da repressão dos pais.
Porém, a medida que vislumbro a felicidade como algo inerente a mim e que a ética me leva a esse estado de forma mais definitiva, naturalmente faço um esforço no sentido de colocá-la em prática. E quanto mais compreendo a natureza da felicidade, menor o esforço para ser ético e mais refinado e abrangente se tornam meus valores.
Se estar bem e feliz é um valor muito claro e os valores éticos como por exemplo: não causar dano e não mentir se conectam diretamente a isso que é muito importante para mim, como posso abrir mão?
A medida que a criança cresce e amadurece, ela percebe que o prazer imediato do sorvete é passageiro e se ela descobre que falar verdade faz com que ela fique bem consigo mesma e que no fundo é isso o que ela quer inclusive ao tomar um sorvete. E que mentir tiraria dela a capacidade até de desfrutar o sorvete, o peso da verdade fica claro e esse valor se torna assimilado por ela.
Não se trata de bem e mal. Não há maldade nem bondade nessa perspectiva. Nem mesmo altruísmo. São valores que podem estar claros ou obscuros fundamentando nossas ações na direção daquilo que buscamos.
É importante ressaltar que a proposta é refletir sobre si mesmo. Gastar a energia mental analisando o comportamento dos outros tende a ser apenas mais uma fuga.
Yoga é para quem está disposto a encarar a si mesmo por mais difícil que isso possa ser. Aceitar-se faz com que esse movimento se torne menos doloroso, mais honesto e efetivo. Refletir a ética é a base sem a qual se torna obviamente impossível se aprofundar no yoga por mais que se especialize nas técnicas e nos estudos.
Harih Om
Por Gilberto Schulz
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Alguns procuram o bem-estar ou a felicidade no poder; outros, na ciência; outros ainda, na luxúria. Os que estão realmente próximos da felicidade compreendem que ela não pode estar naquilo que só alguns e não todos podem possuir. Compreendem que a verdadeira felicidade do homem é aquela que todas as pessoas podem possuir ao mesmo tempo, sem distinções e sem inveja. É aquela que ninguém pode perder se assim não o quiser.
Blaise Pascal.
Como sempre, texto muito bem escrito!!!
Muito lúcido. Parabéns 🙂
Agradeço a apreciação do texto, Rafael, Renata e Yoga Anushasanam! Om
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Embora não faça diferença(!), parabéns pelo texto, pois reflete o real movimento das coisas, este, muito além do que as pessoas pensam sobre o mesmo. A intuição confirma o texto!!!🐣
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