Notícia | Neurocientista de Harvard: A Meditação além de reduzir o estresse, muda o seu cérebro

harvard-neurocientista-meditacao-yoga-cerebro-mudaNeurocientista do Hospital Geral de Massachusetts e da Escola de Medicina de Harvard, Sara Lazar, foi uma das primeiras cientistas a aceitar as subjetivas reinvindicações a respeito dos benefícios da meditação e a testá-los com o uso de tomógrafos computadorizados. Ela ficou surpresa com os resultados – eles indicaram que a meditação pode, literalmente, mudar seu cérebro. Ela explica:

Porque você começou a direcionar sua atenção para a relação entre a meditação e o cérebro?

Sara Lazar: Eu e uma amiga estávamos treinando para a maratona de Boston. Tive algumas lesões por esforço e procurei um fisioterapeuta que me disse para parar de correr e apenas fazer alongamentos. Então comecei a praticar yoga como forma de fisioterapia. Percebi que era muito poderoso, que eu tinha benefícios reais, então fiquei interessada em saber como funcionava.

A professora de yoga me apresentou alguns argumentos, dizendo que o yoga iria aumentar a compaixão e abrir o coração. E eu pensei: “ok,ok,ok, estou aqui para alongar”. Mas comecei a perceber que eu estava mais calma. Estava mais apta a lidar com situações difíceis. Estava mais compassiva e, de fato, com “o coração mais aberto”, capaz de ver as coisas por outros pontos de vista.

Pensei, talvez fosse apenas uma resposta placebo. Então fiz uma pesquisa bibliográfica e vi evidências de que yoga e meditação haviam sido associados à diminuição do estresse, da depressão, ansiedade, dor e insônia e ao aumento da qualidade de vida. A essa altura, estava fazendo meu PhD em biologia molecular. Então simplesmente resolvi mudar e comecei a fazer essa pesquisa como um pós-doutorado.

Como você fez essa pesquisa?

Lazar: O primeiro estudo avaliou meditadores de longa data versus um grupo controle. Descobrimos que os meditadores de longa data tem a massa cinzenta aumentada na região da ínsula e regiões sensoriais do córtex auditivo e o sensorial. O que faz sentido. Quando você tem atenção plena, seja prestando atenção à sua respiração, aos sons, a experiência do momento presente, você reduz a atividade cognitiva e seus sentidos são ampliados.

Também descobrimos que os meditadores tem mais massa cinzenta no córtex frontal, que é associado à memória de trabalho e a tomada de decisões administrativas. Já está provado que nosso córtex encolhe à medida que envelhecemos – se torna mais difícil entender e se lembrar das coisas. Mas essa região do córtex pré-frontal dos meditadores com 50 anos de idade tinham a mesma quantidade de massa cinzenta que pessoas de 25 anos!

Então a primeira pergunta foi, bem, talvez as pessoas com mais massa cinzenta no estudo já tivessem mais massa cinzenta antes de começar a meditar. Então fizemos um segundo estudo: Pegamos pessoas que nunca tinham meditado antes e colocamos um grupo deles em um programa de oito semanas de atenção plena com foco na redução de estresse.

O que você descobriu?

Lazar: Descobrimos diferenças no volume do cérebro depois de oito semanas em cinco regiões diferentes do cérebro nos dois grupos. No grupo que aprendeu meditação, encontramos um aumento do volume em quatro regiões:

1 – A diferença principal foi encontrada no giro cingulado posterior, o qual está relacionado às divagações mentais e à auto-imagem.

2 – No hipocampo da esquerda, o qual dá suporte ao aprendizado, cognição, memória e regulação emocional.

3 – Na junção temporoparietal, ou JTP, à qual está associada a tomada de decisões, empatia e compaixão.

4 – Numa área do tronco do cérebro chamada de ponte, onde muitos neurotransmissores reguladores são produzidos.

As amígdalas – parte do cérebro responsável pelo instinto de ataque ou fuga, que tem relação direta com ansiedade, medo e estresse em geral – ficou menor no grupo que participou do programa de oito semanas de atenção plena. Essa alteração também foi associada a uma redução nos níveis de estresse.

Então por quanto tempo alguém precisa meditar até que comece a ver mudanças no seu cérebro?

Lazar: Nossos dados mostraram mudanças no cérebro após apenas oito semanas em um programa de atenção plena com foco na redução de estresse no qual nossos pesquisados participaram de uma aula por semana. Eles também receberam uma gravação e foram solicitados a praticar por 40 minutos por dia em casa.

Então, 40 minutos por dia?

Lazar: Bem, esse tempo foi altamente variável no estudo. Algumas pessoas praticaram 40 minutos todos os dias. Algumas praticaram menos. Algumas apenas umas duas vezes na semana. A média foi de 27 minutos por dia ou em torno de meia hora por dia. Ainda não existem dados suficientes sobre quanto alguém precise praticar para obter essas mudanças cerebrais.

Professores de meditação lhe dirão, apesar de não existir absolutamente nenhuma base científica para isso, que comentários de estudantes sugerem que 10 minutos por dia podem trazer benefícios subjetivos. Ainda precisamos testar.

Nós estamos apenas começando um estudo que, com grande esperança, nos permitirá acessar quais são os significados funcionais dessas mudanças. Estudos de outros cientistas mostraram que a meditação pode melhorar a atenção e a habilidade de regular a emoção. Mas a maioria dos estudos não foi com neuroimagens. Então agora estamos esperançosos em trazer o aspecto comportamental e a ciência da neuroimagem para trabalharem juntos.

A partir do que já sabemos da ciência, o que você encorajaria os leitores a fazer?

Lazar: Atenção plena é similar a um exercício. É uma forma de exercício mental, na realidade. E assim como o exercício melhora a saúde, nos ajuda a administrar melhor o estresse e promove longevidade, a meditação se propõe a partilhar alguns desses mesmos benefícios.

Mas, assim como o exercício, não pode curar tudo. Então, a ideia é de ser útil como uma terapia de apoio. Não é uma coisa em separado. Já foi usado com muitos outros distúrbios e os resultados variam tremendamente – impactam alguns sintomas, mas não todos. Os resultados são às vezes modestos. E não funciona para todos. Ainda está muito cedo para se tentar concluir o que a meditação pode ou não fazer.

Então, sabendo-se das limitações, o que você sugeriria?

Lazar: Parece sim ser benéfico para a maioria das pessoas. A coisa mais importante, se você for tentar fazer, é encontrar um bom professor. Porque é simples, mas também é complexo. Você precisa entender o que está acontecendo na sua mente. Um bom professor não tem preço.

Você medita? E você tem um professor?

Lazar: Sim e sim.

Que diferença fez em sua vida?

Lazar: Tenho feito isso por 20 anos, então tem uma influência profunda em minha vida. Dá muito “chão” (ancoragem). Reduz o estresse. Me ajuda a pensar mais claramente. É maravilhoso para interações interpessoais. Tenho mais empatia e compaixão pelas pessoas.

Qual a sua prática pessoal?

Lazar: Altamente variável. Alguns dias pratico 40 minutos. Alguns dias cinco minutos. Alguns dias não pratico nada. É muito parecido com exercício. Exercitar-se três vezes por semana é maravilhoso, mas se tudo o que você pode fazer é se exercitar um pouquinho todos os dias, isso também é uma coisa boa. Tenho certeza de que se praticasse mais me beneficiaria mais. Não tenho ideia se estou tendo mudanças no meu cérebro ou não. E é isso que funciona para mim nesse momento.

Fonte: The Washington Post | publicado em 26 de maio de 2015.

Se você quer começar a meditar, cadastre-se gratuitamente na nossa lista de e-mails clicando na imagem abaixo e receba uma meditação de 5 minutos conduzida em 4 passos por Gilberto Schulz para auxiliar e incentivar seu início nessa prática milenar.

meditacao-em-4-passos-gilberto-yoga

:

5 Respostas para “Notícia | Neurocientista de Harvard: A Meditação além de reduzir o estresse, muda o seu cérebro

  1. Pingback: Yoga direcionado para Transtornos Mentais | yoga em casa | para conhecer e começar a praticar onde estiver·

  2. Pingback: Eliminar o estresse via meditação é possível - Programa Corporativo MIND·

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.