Não cabe em palavras nem em números o valor do yoga. É possível sim, descrever benefícios físicos, mentais, “espirituais”, mas me refiro aqui a uma percepção íntima, disponível apenas àqueles que já colheram os frutos mais doces desse estilo de vida.

Se é o seu caso, de repente, sabe do que estou falando. Se não, o que pretendo dizer se resume a uma sensação que se traduz na perplexidade de uma dúvida: “Como as pessoas vivem sem Yoga?”

De certa forma, a popularidade do yoga tem como base esse espanto, tanto que você pode reparar como as pessoas no geral recomendam yoga sem saber explicar exatamente o porquê, falam do alongamento, do relaxamento, do aquietamento mental, mas sempre com um ar reticente…

Como se faltassem palavras. O ator Rodrigo Santoro – para aproveitar um exemplo público e registrado – quando tentou dar essa explicação ao vivo no programa do Faustão, caminhou por alguns bons argumentos mas como que querendo concluir tudo o que queria dizer, soltou “O Yoga é um santo remédio”.

E esse remédio não é santo por falta de explicação científica. Cada vez mais a ciência atesta os benefícios do yoga, no sentido de remediar e também de prevenir. Como medir o valor da prevenção? De estar livre de um mal que poderíamos ter tido e não tivemos?

Além disso, esses efeitos curativos e preventivos são inúmeros e alguns são incomensuráveis pois brotam no nível mais íntimo da nossa subjetividade numa mudança de perspectiva, de olhar sobre si e sobre o mundo que revela uma profundidade associada a uma leveza diante dessa montanha russa que é viver.

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Mas não se trata de um mar de rosas, um “deboísmo” incondicional, cara de paisagem e gratidão na ponta da língua. O yoga nos leva a navegar por mares profundos e, por vezes, revoltos, que nos fazem encarar nossas sombras, nossos medos, desejos e nossas responsabilidades.

Não há yoga sem uma revolução interna e sem questionamentos

Por isso costumo dizer que yoga até pode ser para todos, mas nem todos são para o yoga. Abrir mão de uma vida automatizada regida por gostos e aversões em prol de algo que a princípio soa meio inexplicável é um desafio e tanto.

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Mas como você pode perceber através desse texto que tenta revelar sem dizer de forma explícita, esse desafio existencial traz uma ótima recompensa e a cada passo que damos nessa estrada, aquilo que buscamos fica cada vez mais claro.

No entanto, apesar de estar aqui a compartilhar essa apreciação, sei que ela só é acessada e compreendida por aqueles que decidem se aventurar de verdade por esse caminho. Pois é como está dito no Yoga Bashya:

“O Yoga deve ser conhecido por meio do Yoga. O Yoga manifesta-se mediante o Yoga. Aquele que se aplica sem descanso ao Yoga, no final, encontra no Yoga uma alegria permanente.”

Om Tat Sat
Por Gilberto Schulz

Gilberto Schulz tem formação técnica em yoga pela ABPY e participação em cursos no Brasil e na Índia com professores de referência da tradição do yoga.
Atua há mais de 10 anos ensinando yoga e meditação